quinta-feira, 8 de março de 2018

pink is dark

Vou deixar de usar cor-de-rosa. Chegou o tempo. Não é negar-me. Sabendo eu que é a minha cor favorita. Mas não dá para aguentar mais esta coisa do frágil de uma sociedade quadrada.
Uma sociedade que procura mulheres cor-de-rosa. E esta cor implica ser um Ser delicado que precisa de ajuda para mudar uma lâmpada. (Tadita). Para escolher o carro. (Não sabe nada de motores). Para saber como se explora um telemóvel ou um portátil, na sua capacidade máxima. Implica não saber de política. Não saber de coisas de homens. O melhor spread ou de bitcoin. Não perceber nada de futebol. Mas de cozinha já é outra conversa. Não porque a melhor, mas porque é o seu espaço. O homem é um Chef, já se sabe. A mulher é a boa cozinheira. É o seu espaço. É pois, é ela a mais disponível para cozinhar. Foi treinada na perfeição para servir, não para ganhar. Ganhar, que coisa de homem! 
Quando somos competitivas é um defeito. Os meus irmãos podem ser competitivos, já eu... não faz sentido, nunca vou ganhar, eles são homens. 
O pior é que no meio disto o meu pai criou uma competitiva-mor. Ora, porque não iria eu jogar futebol como um rapaz se os meus irmãos jogavam?!. Mesmo com os meus sapatos de verniz imaculados cor-de-rosa, que a minha mãe me comprava (e eu amava). Eu, jogava como um rapaz. Saltava como um rapaz. Dizia asneiras como um rapaz.
Cresci. Agora sei falar de spreads e de bitcoins. Sei de política e do mundo. Sei mudar uma lâmpada e desentupir um cano. Sei mudar um pneu, cuspir e assobiar. Sei saltar em comprimento. Sei escalar e nadar. Sei lutar kickboxing.
Compensa querer ser igual? "Que macha que és!"
Faço ballet e uso cor-de-rosa. E assim, com um simples en dehorsr, deito toda a minha força a perder. E sim, sou emocional, "como qualquer mulher" (diria o meu irmão mais chorão).
Tenho prazer em fazer coisas... isso é porque não estou preenchida. E porque o melhor para mim é arranjar um homem. Porque o melhor parar mim é ter quem tome conta de mim e me proteja.  Porque o melhor para mim é vestir cor-de-rosa. Porque é assim. Porque há um rito de culto para uma mulher fofa e frágil. Ser frágil é uma mais valia nesta sociedade. 
Ser despachada e confiante é coisa de homem, quase uma coisa homossexual. 
Sair da zona de conforto é difícil. Sofremos alguns arranhões no ego.
Por isso, vamos dar-lhe a mão a essa mulher frágil e torna-la dependente para sempre. Arranhões no ego sem necessidade nenhuma. As mulheres querem cada coisa.

Viva o cor-de-rosa! Sabem porque é que não sabemos e não gostamos de arranhar o ego? Porque há sempre um homem ao virar da esquina a dar-nos a mão. Fácil!
Dependentes para sempre, mas felizes. 

Depois há a realidade para lá do nosso umbigo. Há um mundo descompensado. Há quem se veja mutilada por nascer mulher. Que seja apedrejada por erguer os olhos. Há quem não possa exprimir o mínimo pensamento livre.
E nós aceitamos. Nós aceitamos coexistir. 
Assim. Fácil. 


Ocidente é levado pela mão, como uma mulher frágil.
O ocidente é cor-de-rosa.