quinta-feira, 9 de abril de 2020

Tempo

Tenho tido muito tempo para pensar. Tempo para pensar no tempo que passou por mim e eu nem o senti. Não me lembro de mim nesses dias. Chego a temer não ter existido lá. Se não me lembro, se calhar foi tempo mal gasto. E eu gastei-o sem hesitar. Gastei-o com tempo.

Agora com tempo, penso no tempo e onde o posso gastar. Tenho usado algum desse tempo para viajar na tua vida. Imagino-te e Imagino-me. Temos uma vida neste quarto. Há sol. Há praia. Há campo. Dois carros. Amigos. Discussões inteligentes. Boa genética. Tocas. Eu danço. Sabemos bem passar o tempo juntos. Combinamos sem fazer pandã.

Não me condenes. Sem pré-conceitos. Eu deixei esses caírem.
As crianças de quatro anos também falam sozinhas. Imaginam-se. Têm tempo. Como eu.
Sonhar assim tem sido tempo bem gasto. Existo mais vezes ao dia. Saio, vejo o mar. Respiro ar fresco do Gerês. Penso. Existo. Existo sem sair do quarto. São sonhos, daqueles que não magoam ninguém.

Sabes, vivo bem comigo, consigo rir-me da história de encantar que escrevi para mim... da patetice e de mim.

Tenho sabido existir no tempo e com tempo.
Será que daqui a muito tempo, eu vou saber que existi assim?
Livre, dentro de um quarto.

terça-feira, 31 de março de 2020

Um verso de desassossego.

A vida está de férias. 
Suspensa numa rede de praia.
Baloiça.
Sente a brisa do ar mais puro.
Sem o barulho de carros.
Sem chinfrim de escolas.
Deixa-se suspensa baloiçar.
Ainda vai ouvindo ambulâncias ao fundo.
Humanos a batalhar?!
Mas não se deixa perturbar.
A vida pôs os Homens de castigo 
e decidiu procrastinar.


Versos em tempos de Covid são de rima pobre.