terça-feira, 10 de janeiro de 2017

O Caminho faz-se caminhando

Mudei-me. 
Estou bem. Não estranhei a cidade. É verdadeiramente estranho como me sinto bem aqui. Lembro-me do choque que foi Gent no dia que cheguei. Na semana seguinte e durante o primeiro mês. Era tudo estranho. A língua. A postura dos Belgas. Calados e sérios. O corpo deles. Muito altos. As bicicletas por todo o lado. Neve. Muitos árabes. Era tudo diferente da aldeia de onde eu vinha. Sentia-me sempre desconfiada. Ainda corri algumas vezes de pessoas que me tentavam abordar. 
7 meses depois, no dia que tive de voltar, chorei. Chorei muito. Adorava as pessoas que viviam e conviviam comigo. Adorava a cidade. As bicicletas. A cerveja. O pão dos árabes, e a galinha assada deles... e até a forma estranha de me olharem.
Passaram quase seis anos desde então. Estive em terreno seguro. Estive na zona de conforto, de cabeça enfiada no melhor que a minha terra tinha para oferecer. Estive sempre muito mimada e aconchegada. Cresci muito. Aprendi a ser mais simples. Aprendi a gostar das coisas como são. 
Mudei. Mudei-me. Mudaram-me.
Agora é tempo do el Camino. Santiago de Compostela, a 200 km de casa, um pulinho.. é o que dizem. À primeira vista tudo me parece igual. Sinto-me igual. A cidade é bonita. Caminho todos os dias 20 minutos entre o centro histórico e um jardim. Mui bonito o passeio. Tranquilo. Percebo a língua sem grande esforço mental e as pessoas parecem-me mais familiares. Os galegos são simpáticos, de sorriso grande. Sinto o meu corpo mais relaxado. Sem desconfianças. Sinto-me um pouco em casa. Não tenho muito aquele drama de quem se muda. De estar muito sozinha. De não conhecer ninguém. Sinto que vai ser mais fácil que na Bélgica. Tento sorrir e mostrar-me acessível. Faço "fingers crossed" para me convidarem para almoçar ou uma cerveja pós-laboral. Na Bélgica levou quase um mês, vamos lá ver como se saem os Espanhóis.
"Caminante, no hay camino, se hace camino al andar.", Antonio Machado

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