sábado, 22 de setembro de 2018

Andaluzia libertadora

Há viagens libertadoras. Há um ir para desligar e voltar para a luta. Há viagens sem descanso. Há um cansaço descansado.
Não está tudo limpo. Ainda há divisões com pó. É um mind palace complicado. Com cantos difíceis de chegar. Quase como quando nos esticamos para agarrar o comando da televisão. Estica-mo-nos tanto que no fim, temos de nos levantar para o agarrarmos e por fim, mudar de canal. 
Vou-me esticando. Aqui e ali. Já alcancei alguns cantos. Já tenho o comando. Já vou mudando de canal. Já não há cantos sujos, há arestas a limar. Mas já sei lidar com elas, com o facto de existirem.

Foram férias. Não de  mim, mas do meu mundo. Foram férias para puxar pela influencer que há em mim. Férias para me sentir eu:  aquela Tia louca que ri de tudo. Aquela Tia louca que bebe aguardente e dança de óculos de sol. Aquela Tia que caminha horas sem fim. Que come de tudo. Que experimenta. Que respira vida. Aquela Tia que tem opinião.

Até nas férias a minha opinião causa conflitos. Tenho uma personalidade. Repito, tenho um mind palace complicado. Tenho um Capitão Romance em mim. Difícil de entender. Confuso. Assusta. A mim e a quem me rodeia. Talvez porque quero mais do que a vida. Porque quero dar sentido à viagem. A Esta viagem.

Mas acho que agora sabes que sou esta. E só esta. Sem querer ser ninguém. Ser, só.
Também sabes que gosto de discutir. Gosto de conflitos interiores que me façam querer reflectir e crescer. Tenho em mim a curiosidade que matou o gato. O gana pelo equilíbrio desequilibrado. Nunca me conformo. Canso-me e cansei-te. Mas só assim sabemos do que somos capazes. 
Fomos capazes de nos segurar um ao outro.

Foi liberdade para dentro da cabeça. Aventuras cheias. Cheias de tapas e de bebida. Cheias de risos e de andar sem fim.
Dormir pouco, sentir muito.

Vi um mundo árabe que chama por mim. Quase como um sussurro interior que quero muito conhecer. Uma cultura perseguida por séculos, mas que nunca deixou de existir. Escondida em cantos. 
Que resiste. Escondida  em Mesquitas. Nas ruas. Nas histórias. Na genética.
O meu nariz judeu fareja as origens. Quero vivê-las. Sei agora, que a atracção por Tel Aviv vem de dentro. Do querer saber de quem resiste.

Há viagens sem descanso. Há um cansaço descansado. 
Estou pronta para a Luta. Pronta para partir à descoberta. 

terça-feira, 28 de agosto de 2018

O que for, quando for, é que será o que é. "

Não é desistir. Nem baixar os braços. É crescer. Eu que tanto quis ser sempre a menina e nunca crescer.
Se calhar a idade apanhou-me. E lá amadureci. Uma Peter Pan sem saída.
O mundo dos adultos. Que tramado!
Ouço muitas vezes:
- E se não aparecer alguém?
Respondia com silêncios. Encolher de ombros.
Agora respondo: ok!
- E se aparecer alguém?
Respondia com: os homens não prestam.
Agora respondo: ok!

Há uma estória em cada vida que se cruza com a nossa. Vai sempre haver. Se a pessoa existe em nós, existe porque há uma estória para contar.
Porque a vida é como o P. dizia: "Ela continua!"

Sim. Vai continuar. E, não há muito que saber: ou vivemos ou deixamos de ser.
E viver implica tanta coisa. Não se restringe a nada. Nem a ontem, nem a hoje, se tu quiseres.
E não é uma luta. É uma aventura. São mil contos.

E sim! Não nego. Existe uma vontade interior de sentir o amor sublime. De sentir o tocar de almas. Existe um sorriso. Um olhar. Um toque que nos arrepia o corpo e a alma. Um cheiro que sentimos de olhos fechados. Uma voz que nos segura. Um calor que nos atrai.
Quero-o viver, claro. Mas se não for este o destino a que o meu existir se destina? 

Se calhar já passou por mim. Ou ainda estará para vir.

Florbela Espanca dizia:
"Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!"

Certo, a sociedade foi desenha para duplas e duetos.
O remédio é fazer-te valer por dois. E canta-la, a vida!

Se aparecer alguém: ok!
Se não aparecer ninguém: ok!

Porque Ela continua, vai haver sempre vida. Vai haver sempre alguém a cada primavera:

"Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
...
O que for, quando for, é que será o que é. "
Alberto Caeiro

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

A Alegria é a coisa mais séria da vida!

Não é fácil manter. São anos que nos inundam. Horas de distância. Minutos esquecidos.
Estórias que crescem. Pessoas que entram. Pessoas que saem. O difícil é ficar. Ficar e saber manter.
Gerir laços. Gerir amor. Gerir amizade. Gerir-nos.
E por muito que seja difícil compreender, devemos sentir que o tempo que ficamos é muito maior que os minutos que esquecemos.
E quando crescemos. Quando a vida acontece. Manter amigos é difícil. Se os dias nos afastam, se as vidas não se cruzam. O sentimento de quer ficar ás vezes é ultrapassado pela direita. Nem sabemos como nos aconteceu.

Depois vem uma data especial. Voltamos. Sabemos que queremos aquilo em nós. Queremos manter.
E vem a vida, no minuto a seguir. Numa mensagem, num lembrete do calendário. E a vida leva-nos.
E se naquele momento que ficamos não fazemos valer o que sentimos, quem nos vê sair pode não querer deixar voltar.

Levantamos a mão e citamos que amizade é para a vida toda: "longe mas sempre perto".

Depois vem o abraço. O sorriso de olhos fechados. A gargalhada alta e feliz. O tocar sublime de almas que se revêm em ditos e sons. Conversas sérias e sobre nada. Podem ser 3 dias em 365 mas são alegria para alma. Duram uma vida inteira. 
São amores alegres para a vida toda.


quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Ser transparente.

Ser. Ser cor. Ser transparente. Ser formatado. Ser só. Ser com muita gente. Ser só contigo. Deixar de Ser. Seres só tu. Só. 

Acordar. Há um feixe de luz que me desperta. Ser. Existir apenas na tranquilidade da melhor posição do mundo.  Aquela posição confortável. Única. Que o corpo escolheu naquele primeiro sono. Quase que me define. Ficar só mais um bocadinho. Ser só comigo. O equilíbrio de estar só a existir. 

É verão. Há calor.

Há alguma inércia e uns braços desmotivados. Silêncios. Desequilíbrios.

Há também alguma vontade de ir na maré. Sentir o vento nas costas e ficar. Ser sorriso. Cantarolar e seguir. 
Ser eu. 
Só eu. 
Transparente.

sábado, 28 de julho de 2018

One more time

Tinha 4 anos e um coração de ouro preso na orelha. O olhar estava vazio. Sem emoção. Não havia sorriso. Só dois pequenos lábios fechados. Ombros que mostravam alguma timidez. Algum desconforto. Camisola cor-de-rosa, vestida com as costas para a frente. Desde pequena que decidi que era eu que me vestia, sem ajudas. Uma paisagem idílica com um sol a pôr-se: a tela do fotógrafo que deve ter varrido todas as escolas da região.
Não me roubou um sorriso. Eu achava que era de sorriso fácil! “A menina mais menina que conheço”, conta a minha mãe. Era assim que me descreviam. E nem um sorriso. Talvez não soubesse o que me esperava.
Hoje sinto que sou a mulher mais menina e deslocada que conheço. Hoje tenho aquele olhar. Aquele coração pendurado no brinco. Deslocado do sítio certo. Ou no sítio certo mas a doer-me por vê-lo vezes sem conta, fora. Pendurado nas mãos de alguém. Contínuo de sorriso fácil. Hoje ao olhar-me com quatro anos reconheço as sardas. Os lábios finos. O olhar vazio. Ombros em baixo. A timidez de quem já não sabe confiar novamente.  Se pode confiar. Não tem compensado. Sei no entanto vestir-me sozinha sem trocar o lado da camisola.
E sei também, o que me espera.
Cresci.

quinta-feira, 8 de março de 2018

pink is dark

Vou deixar de usar cor-de-rosa. Chegou o tempo. Não é negar-me. Sabendo eu que é a minha cor favorita. Mas não dá para aguentar mais esta coisa do frágil de uma sociedade quadrada.
Uma sociedade que procura mulheres cor-de-rosa. E esta cor implica ser um Ser delicado que precisa de ajuda para mudar uma lâmpada. (Tadita). Para escolher o carro. (Não sabe nada de motores). Para saber como se explora um telemóvel ou um portátil, na sua capacidade máxima. Implica não saber de política. Não saber de coisas de homens. O melhor spread ou de bitcoin. Não perceber nada de futebol. Mas de cozinha já é outra conversa. Não porque a melhor, mas porque é o seu espaço. O homem é um Chef, já se sabe. A mulher é a boa cozinheira. É o seu espaço. É pois, é ela a mais disponível para cozinhar. Foi treinada na perfeição para servir, não para ganhar. Ganhar, que coisa de homem! 
Quando somos competitivas é um defeito. Os meus irmãos podem ser competitivos, já eu... não faz sentido, nunca vou ganhar, eles são homens. 
O pior é que no meio disto o meu pai criou uma competitiva-mor. Ora, porque não iria eu jogar futebol como um rapaz se os meus irmãos jogavam?!. Mesmo com os meus sapatos de verniz imaculados cor-de-rosa, que a minha mãe me comprava (e eu amava). Eu, jogava como um rapaz. Saltava como um rapaz. Dizia asneiras como um rapaz.
Cresci. Agora sei falar de spreads e de bitcoins. Sei de política e do mundo. Sei mudar uma lâmpada e desentupir um cano. Sei mudar um pneu, cuspir e assobiar. Sei saltar em comprimento. Sei escalar e nadar. Sei lutar kickboxing.
Compensa querer ser igual? "Que macha que és!"
Faço ballet e uso cor-de-rosa. E assim, com um simples en dehorsr, deito toda a minha força a perder. E sim, sou emocional, "como qualquer mulher" (diria o meu irmão mais chorão).
Tenho prazer em fazer coisas... isso é porque não estou preenchida. E porque o melhor para mim é arranjar um homem. Porque o melhor parar mim é ter quem tome conta de mim e me proteja.  Porque o melhor para mim é vestir cor-de-rosa. Porque é assim. Porque há um rito de culto para uma mulher fofa e frágil. Ser frágil é uma mais valia nesta sociedade. 
Ser despachada e confiante é coisa de homem, quase uma coisa homossexual. 
Sair da zona de conforto é difícil. Sofremos alguns arranhões no ego.
Por isso, vamos dar-lhe a mão a essa mulher frágil e torna-la dependente para sempre. Arranhões no ego sem necessidade nenhuma. As mulheres querem cada coisa.

Viva o cor-de-rosa! Sabem porque é que não sabemos e não gostamos de arranhar o ego? Porque há sempre um homem ao virar da esquina a dar-nos a mão. Fácil!
Dependentes para sempre, mas felizes. 

Depois há a realidade para lá do nosso umbigo. Há um mundo descompensado. Há quem se veja mutilada por nascer mulher. Que seja apedrejada por erguer os olhos. Há quem não possa exprimir o mínimo pensamento livre.
E nós aceitamos. Nós aceitamos coexistir. 
Assim. Fácil. 


Ocidente é levado pela mão, como uma mulher frágil.
O ocidente é cor-de-rosa. 

domingo, 21 de janeiro de 2018

Having your heart broken is a tremendous way to learn about the world.

Interested in others. And I think, intelligent. All I ask is to get to know people and to have them interested in knowing me. I doubt whether I would marry again and live that close to another individual, but I remain invisible. Don't pretend for a minute as you look at me, that I am not as alive as you are, and I do not suffer from the category to which you are forcing me. I think, stripped down, I look more attractive than my ex-husband but I am sexually and socially obsolete and he is not.I have a capacity now for taking people as they are, which I lacked at 20. I reach orgasm in half the time and I know how to please, yet I do not even dare show a man that I find him attractive. If I do, he may react as if I have insulted him. I'm supposed to fulfill my small functions and vanish. It Hurts To Be Alive And Obsolete: The Aging Woman by Zoe Moss 1970

- Jamie, 20th Century Women