terça-feira, 1 de julho de 2014

rewind

Tinha cinco anos, diria eu. Era doce, cabelo castanho claro ondulado. Encostou-se a mim enquanto eu joga no telemóvel e disse-me "Olá". Ficamos as duas na minha imaginação. Chamaram pelo nome Ana João Araújo Fernandes e eu vi-a levantar-se e dirigir-se à senhora. Fiquei. Vi.

Hoje fiz pela primeira vez uma TAC à cabeça. As dores de cabeça têm sido constantes. Em tom de despiste e de forma a aumentar a preocupação, deite-me na maca. A respirar contidamente vi aquele aparelho mexer-se sobre a minha cabeça. A conversa da senhor era sobre o stress que eu não podia ter, ora eu não sou casada e não tenho filhos.
No fim perguntei-lhe timidamente se estava tudo bem. Disse-me: "é.. vai correr tudo bem. Sabe que a técnica que lhe fez a TAC teve um aneurisma". Continuou a falar e o que eu ouvi foi: "Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii". Sério? Sensibilidade, sabe o que é?

Enquanto organizava o meu disco externo encontrei um texto escrito por mim em 2011. Lindo. Andava eu à procura de mim. Não mudei nada:

«Como se aprende a flutuar sobre o abismo na indecisão, das perspectivas de futuro ou da ausência delas? De alguma forma vou ter de aprender, vou saber superar, aliás, vivi 24 anos a trabalhar para o momento em que termino o curso. É engraçado como tudo nos leva a esforçar por uma educação superior. Começamos bem pequeninos, eu aos 5 anos. Antes dos 5 em casa, somos incentivados a sermos espertos, despachados, a aceitar a opinião dos adultos. Aos 5 anos na escola aprendi as primeiras letras. E foi o início de uma longa caminhada, a caminhada para a sabedoria, pensam os de fora. Eu não tenho tanta certeza assim.».


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