sexta-feira, 19 de setembro de 2014

tu seguras

O dia da S. aproxima-se. Ela anda nervosa, nós nervosa por ela. Queremos dar-lhe um dia alegre, vê-la feliz e apadrinhar a felicidade que há-de continuar a vir.
Gosto do amor dela, solido e independente.

Eu seguro contigo S. Sei que me poupas a algumas coisas que lá no fundo eu digo que não faz mal, "que tem não saber o que é isso?" Um dia aprendo ou alguém me mostra".

Gosto quando me abraça e me passa a mão na cabeça. Aquela ternura faz-me ter a a sensação que sou pequenina e vou aprender essas coisas do "amor", o que ele tem e que eu ainda não vi.

 Quando o tempo for remendo,
Cada passo um poço fundo
E esta cama em que dormimos
For muralha em que acordamos,
E o meu braço estende a mão que embala o muro.

Quando o espanto for de medo,
O esperado for do mundo
E não for domado o espinho 
Da carne que partilhamos,
Eu seguro.
O sustento é forte quando o intento é puro.

Quando o tempo eu for remindo,
Cada poço eu for tapando
E esta pedra em que dormimos
Já for rocha em que assentamos,
Eu seguro.
Deixo às pedras esse coração tão duro.

Quando o medo for saindo
E do mundo eu for sarando
Dessa herança eu faço o manto 
Em que ambos cicatrizamos 
E seguro.
Não receio o velho agravo que suturo. 

Abraços rotos, lassos,
Por onde escapam nossos votos.
Abraso os ramos secos, 
Afago, a fogo, os embaraços
E seguro,
Alastro essa chama a cada canto escuro.

Quando o tempo for recobro,
Cada passo abraço forte
E o voto que concordámos
É o amor em que acordamos,
Eu seguro:
Finco os dedos e este fruto está maduro.

Quando o espanto for em dobro,
o esperado mais que a morte,
Quando o espinho já sarámos
No corpo que partilhamos,
Eu seguro.
O que então nascer não será prematuro.

Uníssonos no sono,
O mesmo turno e o mesmo dono,
Um leito e nenhum trono.
Mesmo que brote o desabono
Eu seguro,
Que o presente é uma semente do futuro.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

here and now


Queremos o espaço, a nossa vida. Queremos a casa, o nosso canto. 
A casa para mim, descobri-o agora, é mais do que um espaço. É mais que o meu sofá, a minha cama, as minhas contas, o meu fogão. A casa é isso tudo e as pessoas. Essas não estavam lá comigo. 
As pessoas que nos contam coisas, que ficam connosco, que nos ouvem. As pessoas que nos dão alegrias, conselhos, que nos dão nas orelhas. A minha casa e o meu espaço são as minhas pessoas.

Viver sozinho não foi a mais sábia opção, comigo difícilmente é. Salto e fecho os olhos. Não foi pensar com o coração ou com a cabeça, não foi de todo pensar. Foi um passo sem ter em conta o meu pequeno Mundo. Aquele mundo de não saber viver só para mim. Não o sei. Nunca o soube. Gosto de viver para os outros. Gosto muito mais de dar e fazer. Gosto de ouvi rir e ver os outros. Gosto de mim cheia de barulhos dos outros.

Voltei. É isso. Voltei.

Há alguma tristeza. Aquela tristeza do movimento precipitado. A tristeza de ter de dar um passo atrás. A ideia de que errei e iludi-me sobre o que não sou.

O resto que sinto é a serenidade de voltar a casa depois de umas longas férias que já me incomodavam, por não serem excitantes ou felizes. Eram aborrecidas, com alguns momentos calados e sem muito sentido.

Voltei à minha carpete vermelha. Voltei a ter jardim. Voltei ao meu baloiço. 
Voltei para as pessoas que só de me verem sorriem e me fazem sorrir. Assim, simples.


domingo, 14 de setembro de 2014

o xanax da alma (sem cura)

"fica-se na esperança, quase como lamento de não se ter conseguido. "era bom, mas que fazer: resta esperar". e como sedativo da alma, canta-se o fado, bebe-se um copo, que quem espera sempre alcança (mentira). afogam-se as mágoas num ombro amigo e espera-se. espera-se que o mundo se vire para nós, espera-se que o trabalho fique melhor, espera-se que o outro apareça naquela esquina. ou então não. não se espera: faz-se. se o mundo não roda, rodamos nós no mundo, se o trabalho não melhora, fazemo-lo nós ficar diferente. se o outro não aparece, viramos nós a esquina."

                                                                                                                                                  daqui.

http://www.youtube.com/watch?v=XmSdTa9kaiQ

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

flock of birds

A flock of birds. Hovering above. Just a flock of birds. That's how you think of love.
And I always Look up to the sky Pray before the dawn, 'Cause they fly always, Sometimes they arrive, Sometimes they are gone. They fly on.
A flock of birds. Hovering above Into smoke. I'm turned and rise Following them up.
Still I always Look up to the sky Pray before the dawn, 'Cause they fly away, One minute they arrive
Next you know they're gone. They fly on. Fly on.
So fly on, ride through Maybe one day I'll fly next to you. So fly on, ride through. Maybe one day I could fly next to you. Fly on.


segunda-feira, 8 de setembro de 2014

um sítio onde podes descansar


Eu sei que continuas aí.
Eu sei que nunca fomos amigas, houve sempre um desconforto. Nunca o soube perceber.
Não sei  quanto me queres puxar as orelhas, ou talvez pior. Entendo que queiras dar-me muitos pontapés.
Se continuas aí, quero que saibas que quero fazer emendas, mas sei que não posso. Posso sim pedir perdão.

Não me lembro de como começou a inundar-me a cabeça. Onde me humilhei pela primeira vez e te pisei a ti. Não me lembro de ter pensado em ti ou em ninguém só em mim. Fui eu, foi a vontade de o ter, de sentir aquele amor que vivia em mim, foi aí que nos humilhei, quando a vontade se instalou como certeza.
Humilhei-me  e humilhei-te. Magoei-me e magoei-te. Errei, fui fraca. Fui má.

Fiquei estranhamente preocupada contigo, com a tua reacção perante a vida, no teu dia-a-dia. Receei ter ajudado a magoar-te ainda mais, a criar mais tristeza em ti.
Confesso que nunca te vi feliz, em harmonia. Sempre te vi zangada, amuada, rezingona, de resposta dura na mão. Vi-te rir muitas vezes mas sempre de luas, ora de riso enorme, ora de riso contido, ora de cara fechada nos corredores... sempre me foi difícil perceber-te.

Perguntei por ti, sei que estás tranquila. Fico contente.
Eu também quero ficar. Espero que já estejas aí, nesse lugar onde a calma comanda a vida.

Olha, eu estou a sofrer, e aquela alegria estúpida que eu via em mim está apagada. Estou só.
Se calhar tu também, mas acredito que mais firme que eu. Sempre te vi mais firme que eu.

«um dos momentos mais difíceis na vida, são as mudanças de ciclo.
mais difícil com os amores. porque aí envolve mais pessoas. e ao contrário do que muita vez se pensa, não tem a ver com a vontade do novo ciclo. não, tem a ver com o que está a morrer. porque custa foda-se. são mil dúvidas no que podemos ter errado. mas não erramos. é a vida que é assim mesmo. mas rasga. porque há sempre alguém que sofre, directa ou indirectamente. e isso custa.»



Perdão.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

sentir-me aqui

«Um dia o sábio estava sentado com um pequeno rapaz a conversar sobre a sua vida e disse:
- Rapaz, eu tenho, sempre tive e irei ter sempre uma luta terrível entre dois lobos no meu interior.
- Uma luta entre dois lobos mestre!?
- Sim. Um deles é mau e traz consigo o arrependimento, a arrogância, a culpa, o ego, a falsidade, a inveja, a mentira, o orgulho, a raiva, a superioridade e a tristeza. O outro é um lobo bom e traz consigo a alegria, o amor, a bondade, a compaixão, a empatia, a esperança, a fé, a humildade, a generosidade e a verdade.
- E eles não se atacam mestre?
- Atacam. E esta mesmo luta existe dentro de ti e dentro de todas as pessoas do mundo…
O pequeno rapaz fez silêncio por alguns instantes e, de seguida, perguntou:
- Qual deles vai ganhar mestre?
E a resposta do mestre foi simples:
- Aquele que tu alimentares.»

Nessa luta terrível que tem sido, estou decidida a não baixar os braços e alimentar o bem. Não será fácil, não tem sido não.
E nos dias que for-me difícil discernir o bem e o mal, vou tentar sempre lembrar-me de ti e do lobo bom que quero alimentar em mim.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

#1

Está quase a chegar um novo ano para mim. Os meus desejos são monótonos e repetitivos mas são os meus, não os hei-de mudar até que seja a hora. Até lá vou fixando ideias na parede da memória do que não me posso esquecer: #1


«Saí então à rua para colher um pedaço da vida que corre serena, firmar-me no espaço, tentar libertar-me da febre que me queima a pele assim, deves sentir, sentes?»                                                 Daqui.