segunda-feira, 28 de novembro de 2016

A Bela Adormecida

Nunca foi o meu tipo de princesa. Sempre choquita, menina dos papás, de rodopiar sobre si com o mundo ganho a seus pés. Mas bem, era uma princesa e eu sei a história dela. Foi o meu primeiro filme no cinema e por coincidência ou não, o meu primeiro espectáculo de ballet.
Não foi um mau presente. Pelo contrário. Foi um presente bonito e pensado. Juro que gostei. Dois bilhetes caros para um espectáculo de Ballet no Coliseu do Porto. Que pinta! 

Ardeu-me um pouco na palma da mão assim que o recebi. Eram dois bilhetes. Teria de levar alguém. Alguém com mais de 25 anos e menos de 40. Homem, hetero e que eu quisesse guarda-lo para mim. Diziam elas divertidas. Acrescentaram que não podia ser meu familiar. E que o tempo urgia. Sorri. Queimei alguns sorrisos meus, interiores. Não tinha ninguém para o bilhete. E em dois meses não iria desencantar ninguém. Era certo. Tão certo que não arranjei. A verdade que do 10 de Outubro até sábado passado, os bilhetes queimavam-me na mão. Causavam-me desconforto e não sabia como resolver aquilo. Convidei o J. Sabia que ia levar o 'não posso'. Era o único que gostava de ter levado. Não dava. A vida separou-nos fisicamente há muito tempo. Mas se era o único que queria levar... bem, foi o único a quem perguntei se queria o bilhete. Remoí mais uns dias aquilo. Senti saudades do R. De certeza que iria comigo. Arrastei "o que fazer com os bilhetes" até não poder mais. No fim-de-semana anterior pensei em convidar o I. Mas sabia que podia passar a mensagem errada. E isso não é bonito. Usar pessoas para não me sentir só, não é uma coisa que eu pratique ou aceite.
Decidi levar a minha sobrinha. Adolescente, 13 anos. Calada! Fã dos One Direction, Youtubers e Minecraft
Correu bem, foi uma óptima companhia! Não estava à espera. Quase como o pai dela. Fala pouco mas o certo. Faz companhia sem cansar. Não me custou nada passar o tempo com ela. Foi smooth e alegre. 
Só não apagou o sentimento que sou incapacitada de levar uma vida 'normal' para uma mulher de trinta anos. Sou tosca. Um pouco sozinha. Não sei emparelhar com ninguém do sexo oposto. Sou analfabeta na linguagem do amor. 
Mas mostrou-me que tenho sempre alguém que me sorria e me dê a mão. 
No final do dia, fui singelamente feliz. 
Continuo na paz da minha caminhada. 
Porém, detesto cada vez mais a Bela Adormecida, que entrave ao meu (des)equilibrado jogo de emoções.

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