sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Bridget Jones

Eu juro que a minha vida dava uma "comédia-pós-romântica". De baile. Com banda sonora. Com lágrimas. Sem final feliz previsto. Com concertinas e violinos. De final indefinido ou indeferido. Com muitas temporadas de correrias e amigos.
Podia ser a Bridget Jones (não sei se já o disse em voz alta), mas magra... de resto igual! 
Problemas de auto-estima: check; maratonas no sofá rodeada de comida: check; dificuldades em ter relacionamentos, também confere; tendência para quedas em sítios públicos: check; falta de filtro: todos os dias. As nossas vidas se cruzam  na estupidez de cada coisa.
Podia começar a contar a história da fotografia do primeiro dia de escola. A camisola do avesso. A saia de xadrez vermelha. As meias-calças amarelas. E o belo do sapato de verniz azul. Isto porque decidi que a roupa que a minha mãe escolhera no dia anterior não era bem aquilo que eu queria. Eu queria ter Swag.

Depois passar pelo meu primeiro beijo, aos 9 anos. Foi junto à fonte da aldeia. Um loirinho da turma agarrou-me e deu-me um beijo à força. Chorei e corri em círculos muito tempo. Quando me cansei, lavei muito a boca na água da fonte, com força. Esfreguei até sair. Depois passei um quilo de bâton do cieiro para me curar daquela doença. O meu irmão João riu-se daquilo durante anos. Sim! Contaram-lhe na escola. Ainda hoje solta uma gargalhada forte quando se lembra disto. 

Depois foram anos de escola básica, onde bati num menino com o guarda-chuva porque me disse que eu era feia. Juro que não era.  No 9º ano, na viagem de finalistas, mostrei a mama esquerda. Quis mostrar aos meus amigos que o pijama era largo. Num movimento decidido, levantei a camisola (demasiado) e para além da zona da cintura, mostrei a mama. Chorei mil lágrimas. No dia que voltei à escola toda a gente sabia. Havia fotos de rapazes a imitar o meu gesto nos painéis da escola, junto ao bar. Os meus amigos contam e revivem este momento único em todos os jantares de natal. Foi épico para eles. Sou a fornecedora de alegria mais fofa que eles conhecem.

No 11ºano estatelei-me de amores pelo meu coleguinha da carteira de trás. Trocamos músicas e longas conversas e ele trocou-me pela vizinha dele. Chumbei a matemática, com uma dor de pescoço como brinde, de tanto olhar para ele na carteira de trás. Seguiu-se um regime de silêncio e rock deprimente, a reviver músicas que ele me tinha mostrado.
Veio a universidade e um namorado engraçado, que me fazia rir do chão à lua. O mais engraçado foi que me pediu em namoro, a mim e à namorada dele (4 anos antes). Um piadolas. Seguiu-se um regime de lágrimas e rock deprimente. 

Fui de Erasmus. Rios de palhaçadas e alegrias. Cheguei a ser hospedeira de bordo em diversas bebedeiras. 
Curei de amores estúpidos com álcool e pasta. Voltei.

Enverguei pela ciência. A maior comédia de sempre. Voltei ao rock deprimente. 
Fiz uma roadtrip com amigas pela Europa. Conheci um bartender que ainda hoje me manda email e acha que vai casar comigo... Diz que vai comprar um terreno em Portugal. Quer viver no campo. Socorro!

Namorei com um laranja que gostava demasiado de jesuítas. Levei um chuto tão grande que a minha barriga colou-se às costas e perdi 10 quilos. 
Juntei-me ao folclore. A comédia. Pessoas que tornam a minha vida num video hilário da "Porta dos fundos". Zero amores. Mil risos.

Organizei o congresso e contracenei numa comédia negra. Fui demasiado rock star. Gostei. Senti-me na primária com a roupa aleatória que não combinava. Swag! Mas.. muita uva, pouca parra.
Depois vieram os casamentos que não fui convidada. Poré, fui notificada para apadrinhar as despedidas de solteiro. Mixórdia de temáticas. 

Ainda tive tempo de  ir aos Açores levar um pontapé no cu da amizade de décadas. Afinal quando se namora não se tem amigas, aprendi uma lição, sem anel de rubi.
Pelo menos ficou claro que levar pontapés no cu é transversal... não se fica por portugal continental, também se estende às ilhas... e ainda bem, detesto limitações no que toca a pontapés. 

Mais uma voltinha na comédia das comédias: o TP disse que me viu numa praia. A mais louca frase de engate que ouvi até hoje. 
Vou andando louca entre homens mal resolvidos e uma neblina de coisas que não entendo.
Acho que a Bridget Jones está grávida... Os loucos estão certos.

Sem comentários:

Enviar um comentário