quinta-feira, 6 de junho de 2013

Sonho. Não Sei quem Sou

Ando numa vida de noites mal dormidas. Ora porque sonho com discussões políticas entre mim e as cadeiras vazias, ora porque a ansiedade das férias que começam já amanhã me atacam... ora porque sonho com o beijo.

A viagem começa amanhã, vamos rumar à Holanda, as quatro em busca do quinto elemento. Depois, juntas e já as cinco, vamos partir para a Bélgica, visitar o sítio do mundo onde fui mais eu, onde tenho memórias boas, tão boas que quero voltar... e que um dia quero ficar.
Quando voltarmos faço as contas e o balanço de cinco dias em terras minhas.

Depois é a política que me aflige, porque penso eu, nunca me preocupou tanto porque nunca o quis tanto, e no meu sonho eu estou sempre sozinha a falar para as cadeiras altas, de pinho, cheias de ordenados e de assento vermelho aveludado. A mesa tem uma toalha branca em linho, cheia de croché nas pontas... Toda a sala é antiga e familiar, mas no sonho não me sinto em casa, sei que não pertenço ao espaço, que sou visita e que tenho algo a provar.

E o raio do beijo? 
O beijo, esse momento de desespero (talvez seja essa a palavra que representa melhor o momento) é me sempre doloroso, tenho a sensação que o nego, que o evito mas que acontece sempre. Não devia ter desejado mais, pedir mais, ou mesmo ter permitido. Não devia! Os abraços ainda me perseguem, ainda sinto as mãos nas minhas mãos. Sinto que perdi tudo ali, naquela noite e que não vou voltar a ter porque certamente, nunca foram esses os fados traçados para aquelas mãos, aqueles lábios e para aquele abraço... pois nada me pertence.

No final, nas manhãs que se seguem ao tumulto das noites, não me sinto cansada de tanta volta entre lençóis, rejeições de pensamentos e sonhos. Sinto-me intrigada por saber processar e nem por isso andar para a frente com tudo. 


Sonho. Não sei quem sou neste momento. 
Durmo sentindo-me. Na hora calma 
Meu pensamento esquece o pensamento, 
             Minha alma não tem alma. 

Se existo é um erro eu o saber. Se acordo 
Parece que erro. Sinto que não sei. 
Nada quero nem tenho nem recordo. 
             Não tenho ser nem lei. 

Lapso da consciência entre ilusões, 
Fantasmas me limitam e me contêm. 
Dorme insciente de alheios corações, 
             Coração de ninguém. 

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

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