sexta-feira, 31 de agosto de 2012

consultório: open 24h per day!

Está baralhada! Deveria ela ter seguido um emprego no qual ouvisse pessoas? Diz que não tem jeito, mas só lhe falta ter na porta uma placa com o primeiro e último nome dela a informar que ouve pessoas. 
Eu não sei, mas ela diz que não sabe ouvir, diz que é distraída e muito centrada no que lhe interessa. Diz que é sensível e ver as pessoas tristes a faz ficar triste. Se é assim, eu concordo, ela não devia ouvir, mas o sinal na porta está lá à vista de todos e só ela não o vê, porque as pessoas continuam a bater-lhe à porta. 
Se calhar é porque ela não tem nada para ensinar, porque nunca esteve lá naquela situação, nunca viveu para uma outra pessoa de uma forma que a maioria vive. É um ser com pouca experiência e talvez saiba ver de uma perspectiva pouco comum. Não sabe das coisas e no fundo é mais útil aos outros assim. O que sabe leu, ou viu os outros viverem ou contarem-lhe. O consultório tem andado cheio e ela a tentar bater com a porta na cara das pessoas. Tem muito medo de ficar sozinha porque sabe de mais o que não viveu, porque sabe o que vem a seguir aquele trecho da história, porque alguém já viveu e veio contar-lhe. Já não acredita na espontaneidade do dia a dia e considera previsível os movimentos das situações sem as viver. O consultório esteve sempre aberto e ela tem muito medo e não sabe como lhe aconteceu. Até o escuro a assusta! Assim nunca vai ser feliz e vai ter sempre pessoas à porta.

Alô, fala Ducky, doí-me o coração!

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