Está baralhada! Deveria ela ter seguido um emprego no qual ouvisse pessoas? Diz que não tem jeito, mas só lhe falta ter na porta uma placa com o primeiro e último nome dela a informar que ouve pessoas.
Eu não sei, mas ela diz que não sabe ouvir, diz que é distraída e muito centrada no que lhe interessa. Diz que é sensível e ver as pessoas tristes a faz ficar triste. Se é assim, eu concordo, ela não devia ouvir, mas o sinal na porta está lá à vista de todos e só ela não o vê, porque as pessoas continuam a bater-lhe à porta.
Se calhar é porque ela não tem nada para ensinar, porque nunca esteve lá naquela situação, nunca viveu para uma outra pessoa de uma forma que a maioria vive. É um ser com pouca experiência e talvez saiba ver de uma perspectiva pouco comum. Não sabe das coisas e no fundo é mais útil aos outros assim. O que sabe leu, ou viu os outros viverem ou contarem-lhe. O consultório tem andado cheio e ela a tentar bater com a porta na cara das pessoas. Tem muito medo de ficar sozinha porque sabe de mais o que não viveu, porque sabe o que vem a seguir aquele trecho da história, porque alguém já viveu e veio contar-lhe. Já não acredita na espontaneidade do dia a dia e considera previsível os movimentos das situações sem as viver. O consultório esteve sempre aberto e ela tem muito medo e não sabe como lhe aconteceu. Até o escuro a assusta! Assim nunca vai ser feliz e vai ter sempre pessoas à porta.
Alô, fala Ducky, doí-me o coração!
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