sábado, 29 de dezembro de 2012

Reflexão: O sr. 2012 (com banda sonora)

De uma maneira, sem muito elaborar o texto, a reflexão (musical) vem em forma de lista disfarçada:

«1 de Janeiro de 2012 tinha ela os pés em Londres e um corpo cansado de uma passagem de ano de frente para a London Eye, rodeada de amigos internacionais que viveram com ela uma das melhores fases que ela tem memória
Depois de Janeiro, entrou na casa de estranhos e adorou Mi casa es tu casa. Veio o que se segue, o Fevereiro e por aí fora, e sem esquecer, um acidente de carro no Carnaval. 
Fecha os olhos e tenta lembrar-lhe o que a marcou ainda mais. Foi Maio, de pulseira de luz rosa no pulso, as primas em cada braço, rumou ao Dragão para dançar, cantar e apanhar a molha da vida dela.
Lembra-se de ter visto amigos que já não via à muito tempo, de estreitar laços com outros e fazer novos amigos. Lembra-se de ter entrado na loucura de ser uma La Fura dels Baús e como amou a adrenalina de estar a 60m de altura com o mundo ao contrário. Lembra-se de ter sido um ano de muita música, como não teve outro. Esteve Alive em Oeiras entre amigos e como saltou! Lembra-se do Manta.
Lançou-se a Barcelona com a M., viu o Dani e a Ale e banhou-se no mediterrâneo pela primeira vez.
Fez a maratona de series com a M. e a Lu, no sofá ao sabor de Lost.
Setembro foi o mês errado, de equívocos, nada de bom aconteceu por lá. 
Outubro o mês dela, juntou os amiguinhos e fez a festa
Depois veio o Novembro e o Dezembro cheio de amigos e com muito J. à mistura. 
Sr. 2012 foi bonzinho na grande maioria dos 365 dias e Freckles agradece. Quer abrir asas e voar mais.»

"Caminhante, as tuas pegadas
São o caminho e nada mais;
Caminhante não há caminho,
O caminho faz-se ao andar.
Ao andar faz-se o caminho
E ao olhar-se para atrás,
Vê-se a senda que jamais,
Se há-de voltar a pisar.
Caminhante não há caminho,
Somente sulcos no mar." 
 A.M.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Només #3

"Subimos os dois e ela ia feliz a contemplar a vista e a perguntar-me o que era aquilo pequeno, se era ali o Arco do Triunfo, isto e aquilo. Atingimos o topo! «Já viste que lindo! Que lindo! Mas custa chegar aqui. É quase como uma curta-metragem da vida. Começamos excitados com a ideia de subir, vamos sentindo desânimo com a ideia de sucessivas escadas e a dada altura, atingimos o topo de nós e tudo é perfeito.» Tinha um sorriso maravilhoso e eu contemplava-a! Gostei de ver o bom momento que ela vivia, notava-se claramente que estava feliz e mais madura, ciente de si mesma.
Dei-lhe a mão e ela encostou a cabeça ao meu pescoço. Estivemos ali uns minutos apenas a ver Paris, sem nada dizer, em silêncio connosco, a sentir-mo-nos bem.
Começava a acumular-se gente e já estava a ficar caótico o espaço e ela olhou-me e eu percebi que era um “vamos”. Descíamos as escadas e ela ia a cantarolar La vie en rose a música que ouvimos pelas ruas, aquelas para turistas que os Parisienses tocavam de acordeão e eu parei a rir-me. Ela rodopiou de sorriso nos lábios. Alcancei-a e segurei-lhe a magra cinta. Ela encostou a testa na minha testa, o nariz dela no meu nariz e num movimento balançado das nossas cabeças, beija-mo-nos. Foi como no primeiro beijo, devagar, devagarinho e sentido. As mãos dela estavam a passar-me levemente pela nuca e eu tinha-a bem segura em mim. Levamos um encontrão forte de um turista e larga-mo-nos. Olha-mo-nos e sorrimos, voltamos a encostar as testas e Cármen agarrou-me na mão e puxou-me. Descemos as escadas numa correria e risadas, parecíamos os dois adolescentes de 16 anos, a descer os Clérigos em dias de cortejo académico. "

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Há dias que perdemos a cabeça

Hoje dormiu melhor, foi o cansaço, foi resignação e essencialmente porque decidiu que tinha de ser. 
Hoje vai sentir que o dia 4 está mais perto e o resto do ano sem a Fenfa é uma certeza. 
Hoje não quis sair da cama. Hoje já deu um pontapé no carro e no suporte do papel. Hoje já mandou o Cão calar. Hoje não respondeu ao Calçadas. Hoje já se chateou com as células. Hoje já quis partir tudo.
Hoje é dia de perder a cabeça, porque houve um dia que a deixou muito envergonhada. Hoje sabe-o! Hoje não é um bom dia. Hoje é dia de ir dormir, assim que conseguir.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Remake do "3"

«Ela  não se lembrava exactamente  mas sabia que já o tinha usado uma vez. Procurou. Encontrou.
A 30 de Julho de 2012 escreveu sobre os "3 dias". Lembra-se como se fosse hoje do que sentiu quando ouviu a teoria pela primeira vez.
Lembra-se que decidiu desde o primeiro momento que teria de adoptar tal teoria. Adoptou-a.
Adopta as coisas que lhe podem vir a ser úteis, como quem guarda trunfos para usar em sua defesa e sanidade mental.
Em Julho usou a carta, hoje não se lembrava porquê.
Por repensar demasiado as coisas, usas os flashbacks ao jeito de Lost para sossegar a alma. Viu-se lá: estava sentada ao lado dele, no chão a ouvir Russian Red embalada no doce o momento de simplesmente estar. Marcou-a.
Levou-lhe 3 dias para exteriorizar e voltar a ter a realidade ajustada.

Voltou a falar tão recentemente nisso.... Que quando deu o pior presente de natal que alguma vez imaginou ainda por cima a ele, sentiu as horas negras voltarem-lhe.
Sendo ela o Pai Natal dos que estão no coração dela, deu um tiro no próprio pé, sabe disso. Dói! Doi-lhe lembrar-lhe o olhar dele na estrada, longe dela, triste.
Não pára de voltar lá, aquelas horas. Não pára de se sentir lá protegida nos braços dele mas a perceber o abandono que se seguia.

Voltou ao que um dia ouviu:

«“I heard in one of these lectures about an experiment where they give guys a pair of glasses that make them see the whole world upside down, but after three days, guess what? They see everything right side up. And then they’d take off their glasses and they see everything upside down again. For three days. And then Eureka, back to normal.


- Yes, it takes the brain three days to adapt.



- Three days…three days for the world to turn right side up again.”»



Espera que o  turn right side up seja melhor que o da última vez.»


Natal #3

Ainda se batem palmas, o tom e as conversas ainda são para o pequenino. Palavras simples, risos, incentivos e brincadeiras. Há restos de papeis de embrulho e caixas vazias aqui e ali. Carrinhos, muitos carrinhos! Brinquedos de todas as espécies e feitios. Doces, petiscos e migalhas por todo o lado. Ainda há natal aqui. O pequeno S. destruidor salta, grita e brinca, ele faz o natal sozinho e nós senti-mo-nos mais pequeninos com ele. Deixamos a euforia entrar-nos na pele e sermos capazes das mesmas brincadeiras adequadas aos pequeninos 2 anos dele.
A melhor parte é ele saber que eu consigo ter a idade dele, ser o braço direito dele no micro-terrorismo, na soneca da tarde e nas brincadeiras com carrinhos. Somos os pequeninos da casa e fazemos do natal a desculpa para rir à gargalhada.

domingo, 23 de dezembro de 2012

...



"Se por acaso me vires por aí
Disfarça, finge não ver
(...)
Depois suspira e diz que esquecer
É a tua profissão!"

sábado, 22 de dezembro de 2012

Embrace yourselves winter is coming

«O Inverno chegou, o fim do mundo não se deu e voltei à paz com o Burro que quis ser Cão da Pedra. Partiu-se muita coisa pelo caminho e não vai ter volta, mas pelo menos a minha raiva foi embora com o Outono.
Deixei lá trás porque o meu coração está mais calmo, menos pisado e menos importado com o que vem rodopiando em torno de mim.
Para mim congelei na madrugada de quinta e só volto a acordar quando me apetecer. E ainda não me apetece.  Foi tão bom. Soube tão bem. Senti-me de mãos dadas, sem tocar nele.
Foi fácil de estar, de rir, de falar, de olhar-lo. As curtas foram demasiado longas e a viagem de carro demasiado curta, mas no fim as horas pareciam paradas... Em pequeninos momentos via-o preocupado e eu tagarela a tentar fazer-lo falar, trazer-lo para longe disso com assuntos para o prender. Falei muito, na volta falei de mais. Quase tudo foi fácil, só sair do carro é que não.»

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

bocadinhos de nada

Há alturas de ficar calada, quase como quisesse fechar olhos e ficar no escuro. Assim, simplesmente eu. Ali,  quieta, talvez só com uma musiquinha de fundo ao de leve, que de tão suave que é não me incomoda. Depois não me apetece falar, nem responder, fico quase hibernada em mim, uns minutos, tem dias que são umas horas... e como veio, volta e passa.
Não estranhes cão, são meus os silêncios e quebras, mas não significam nada.
São bocadinhos de nada.
Depois volta a tagarela, a risinhos, as loucuras e os saltinhos. Não é folia, não é fase, não é criancice, é ser-se eu com todas as pieguices, vergonhas e sacarmos que vêm no pacote.


terça-feira, 18 de dezembro de 2012

"Oh Christmas lights keep shining on!"

«Pai Natal,

Não deve ser a primeira vez que te escrevo e  a última também não pretendo que seja.
Outrora nos meus 9 ou 10 anos devo ter alinhado na sugestão de uma professora ou de uma amiguinha e de caneta em riste, papel e acreditar. Escrevi-te, pedi-te e acreditei em ti. 
Algures nesta grande viagem devo ter suplicado por um brinquedo qualquer, por alguma coisa que fazia sentido e me alegrava mais que tudo. 
Nesse tempo a magia deu-se, tenho a certeza!  E eu certamente dei saltinhos, ri até ao infinito e abracei pais e irmãos como se tivesse a abraçar a ti, agradecendo por transferência de calor humano, da família para ti, a felicidade mágica do bater das 12 baladas e papel de embrulho rasgado no chão a 24 de todos os 25 Dezembros que vivi.
Agora crescida continuo a gostar da magia, do rasgar do papel, das surpresas, da música, dos sorrisos e do acreditar. É o acreditar que me faz querer fazer isso também, alegrar corações, abrir sorrisos e dar calor há alma.
Os meus pozinhos de magia assentam na magia das pequenas tradições algumas novas outras já firmemente em acção: os doces, as camisolas, os postais e as surpresas e eu e as músicas de natal em loop
Por isso, este ano a lista de magia para dar aumentou um bocadinho e isso alegra-me! Alegra-me incluir muitos numa magia universal contigo, comigo e com todos. 

Querido Pai Natal para mim o natal é isso: as luzes que continuam a brilhar em cada um de nós.
Antes de me despedir, aqui fica o meu pedido: quero continuar a fazer magia contigo porque me faz sentir mais feliz, mais eu, maior e mais inteira, mesmo que os outros me achem uma mariquinhas! 
"(...) a lua toda brilha porque alta vive." FP

Beijinhos,
 Freckles»

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Natal #2 - PPC 2012

Chegou hoje! Da ilha e que giro que foi! Fiquei contentinha com a surpresa!


PPC 2012 ao poder!

domingo, 16 de dezembro de 2012

natal #1

Adormeci de mal com o mundo e com a ideia de não mexer muito a cabeça para não estragar o cabelo, pois a apresentadora tem de do mínimo ter imagem, basta conhecer a Cláudia Vieira, boa cara, pouco conteúdo, para perceber o conceito.
Nas dez horas de sono tinha ainda detritos de um dia a carregar bancos, a decorar mesas, palco, restos de cola quente nos dedos e dentes com bocados de fita cola. Detritos de desilusões e sentimentos pouco felizes.
Acordei de tromba gigante que se arrastava comigo e deixava o rasto no chão ao longo de toda a casa. Resposta torta ao pai, resposta desinteressada à mãe, cara de poucos amigos e olhos inchados para todos. Acordei com "os pés de fora" e ser apresentadora numa festa de crianças a engonhar de saltos altos, com um vestido que me deixava meia coxa de fora causava-me ainda mais agonia. Era o coordenar crianças, birras, pausas, percalços e pais... que situação, só de pensar nela, bolas! Era a última coisa que eu queria.
Lógico que não havia muito a fazer a não ser fazê-lo.
Então de microfone na mão, improviso na outra, acabei por esquecer que o dia tinha começado desajeitado e passei a saber divertir-me comigo mesma, com o risos dos pequenos e a bagunça de uma festa.
Fim de festa, crianças fora, ficou o sossego e a desordem. Na desordem de tanta fartura decidimos distribuir os alimentos por aqueles que aqui, neste pequeno pedaço de terra com pouco mais que 3000 habitantes, têm necessidade. No fim trouxe a tristeza comigo, diferente da que acordou ao meu lado, mais dura, mais real, menos minha, mas tristeza à mesma.
Mais uma vez percebi que as minhas birras deviam ter vergonha de si mesmas e mudarem de rumo. Talvez a vida não seja simples mas nela precisamos de simples coisas, e uma dessas coisas é família, é o suporte. Ás vezes basta a família para nos libertar da pobreza. Aqueles que mais sofrem estão sozinhos, é uma solidão que mata, é a solidão que assusta e nada traz de bom.
Voltei deprimida ao calor da casa!

sábado, 15 de dezembro de 2012

há dias que chove a cântaros

«É a ironia do que a chávena indica "kepp smiling" o que o espelho das gotas que se encaminham lentamente aos lábios reflectem. É o movimento sem razão do dedo na falha e o vapor do chá que vai subindo enquanto está quente. É a música que em nada me alegra. É um todo que me lembra que a vida não é simples como dizes.
São as horas mortas, os tempos calados, os menos acesos sorrisos e os inconscientes baixar da cabeça que me fazem ter as certezas que sou mais do que suspiros e que sei soar mesmo sem o vinil. 
Há dias que chove a cântaros e que o mundo mesmo assim anda para a frente.»

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

pico-toque

Num nano-momento que se toquem, que se sintam. Que gire ele nela, que soem juntos, que criem ondas, que transmitam aquilo que naturalmente executam. Que ele existe com ela e que neles não exista a dúvida do que querem. Que se façam ouvir: “Viver, é o ultimato da resposta da música de nós”.

Não soam se ele partir!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

não penses mais nisso #2


"Não sou mais do que um fundo poço.
Sou extremista em individualismo, em determinação, em teimosia e em solidão.
Em egoísmo, em ambição, em amor-próprio.
Desafio-me com facilidade para lutas cegas, exijo sempre metas distantes, invejo todo o saber, autorizo-me a qualquer tipo de iniciação. Tudo me urge. (…)

Se eu própria me bastasse, fugiria para sempre.
Do teu corpo, das mãos quentes.
Mas sou frágil como um grão de neve. Derreto-me com leves sussurros e a ternura estonteia-me. Sofro de constante abstinência de amor."

Talvez sejas mais impossível do que eu gostaria que fosses, mas a gente vai continuar.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

escadas

Pronto, basicamente as coisas descarrilam, as coisas vão há vida delas voltam e baralha-nos. Os resultados ultrapassam-me e não fazem um real sentido. Deprimo e penso nas escadas, nas vezes que o meu 40 de degrau a degrau viu-se por mim obrigado a pisar a escada.
Relembro como elas são penosas, como todo o percurso me aborrece: subir virar à esquerda, virar à direita e entrar. Fica-se verde durante uns minutos, umas horas ou o dia, depende dos passos que o livro vermelho me relembra. Ao percorrer o mesmo caminho na volta passo por quem gosto de rir, por quem gosto de fazer rir, por quem passava bem sem ver e por quem o nome não sei dizer.
Sento-me e percebo que tenho de começar tudo outra vez. Suspiro e a minha persistência ganha-me, faz-me querer aceitar que a subida é penosa mas é sempre um desafio, como todas da vida.
Quando subimos é para descermos de um nobel price na mão, seja ele qual for, seja o propósito que for. Aqui, ali, lá longe ou além. Porque quero  mantê-las vivas, porque subi ao cimo de ti, porque subi pelos sorrisos de estranhos, porque subi para ler o jornal. Se subi é para trazer o prémio da satisfação, e que seja a satisfação traduzida na simplicidade de um bom café, o que interessa é que tenha valido a pena.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

grrrr

«Sou uma pessoa que precisa de saber. Saber se é certo errado. Saber o que os outros pensam. Saber se o meu saber é o melhor ponto de vista. Saber se festejo ou se me afogo em lágrimas. Saber dos outros. Saber-lhes os gostos. Saber agradar-lhes. Saber tê-los. Saber que não quero. Saber que não os quero. Saber que agrado. Saber que gostam de mim.
Antes de sabe-lo imagino-o de várias perspectivas e fico horas na cama a sentir um bando de emoções atravessarem-me, sobrevoarem-me como gaivotas na alvorada do dia, junto ás docas com aquele piar, com aquele som ensurdecedor e agudo de fome e agonia.
De ar desgastado de quem adormeceu em cima da hora de acordar, com olhos de que tudo é negro, dado tais olheiras, sinto-me naquele sitio, o sitio de quem nada sabe. Ora hoje é dia de rosnar.
"Do you konow where the wild things go?"


sábado, 8 de dezembro de 2012

violinos no telhado

«Numa primeira inspiração sobre o que a segura aqui, sente que é tudo. Numa segunda inspiração começam a aparecer as excepções. Após uns segundos, é o "quase nada" que lhe enche os pulmões.
Apesar de ter sido um ano vivo, as inseguranças mordem-lhe os medos, causam-lhe desconforto. O formigueiro nos ossos que prevêem o frio, vem em vagas e teme que seja um ano atípico, a excepção à regra, porque uns vão, outros desaparecem com o rumo das próprias  vidas e os que cá ficam, ficam  e não podem abraça-la de peito aberto, de coração sentido e de braços apertados. Os abraços ficam-se pelo despedir lento, do que havia mais para dizer sem nada da boca sair... Em silêncio, tudo absorvido em sons tristes de pés que se afastam contrariados e pouco paralelos no movimento, em forma de protesto. 

Enquanto caminha e se afasta , enquanto sente degrau por degrau, os violinos começam a ajeitar-se ao queixo, a melodia forma-se no exacto momento que tudo em conjunto se move: o batimento do pé, o arquear dos dedos, as vibrações das cordas, a força do arco, o som produzido com o eco na pequena caixa oca de madeira, o delicado e sensual movimento do corpo, a dança ritmada da cabeça e o  fluir do queixo. Tudo por um som sublime. Tudo num movimento orquestrado, apaixonado que nos permite fechar os olhos e senti-lo sem o ver.
E de olhos fechados quase tudo é mais fácil. O sentir. O cheirar. O querer ficar aqui, na pele quente da face com face, de mãos nas mãos, no balançar do calor que consome e que arde mesmo de olhos fechados.
São três segundos de sorrisos nos lábios que a fazem sempre querer voltar por mais e por mais tempo, e por mais intensidade, e por mais definição, por mais e mais.

"Talvez na tua fantasia, talvez no teu sonho acordado, quem sabe fosse amanhã o dia de ouvir violinos no telhado."

E faz-lhe quer ficar pelo tudo, pela excepção, pelo "quase nada"... apenas a faz querer ficar.»

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

vem fazer de conta

Tentando manter em mim uma certa consciência de que é cada vez mais difícil esconder-te, ainda assim, queria-te mais meu, porque corro sempre que alguém percebe que existes. Não tenho vergonha de ti pequeno, não, não tenho! Tenho vergonha de parecer diferente, transformada no mundo das letras, e de causar expressões faciais seguidas de um "sobreolho levantado" em verdadeira haste, como quem estranha o diálogo, a tombar para o monólogo, ainda mais quando estes acontecem com um cão.  
Mas caros leitores e querido pequeno, isto não veio do nada, antes de ti existiu uma parede de um quarto, e quando a parede teve de sofrer uma pintura, existiu o caderno, existiram as folhas soltas, as solas das sapatilhas ou mesmo as calças de ganga enquanto estava sentada numa esplanada.
Sempre foi uma necessidade aparvalhar com palavras ou rabiscos, nunca consigui deixar os pensamentos desvanecerem com o tempo, tenho de os marcar aqui e ali, porque eles existiram e consumiram-me, fizeram parte e a maioria continua aqui, em mim!
Mas pequeno não temas, tudo trás jogos de cintura e tu não foges à regra: o problema de seres público é o mesmo o problema de crescer. Quando crescemos deixamos de ser espontâneos  medimos o que dizemos, pensamos duas vezes, agradámos quase incondicionalmente porque temos "educação". Depois a hormonas e a educação trazem as restrições.  
Se és crescido podes deixar de ser autentico, mas pequeno, para já não, ainda não, ainda és uma criança e as crianças são como os bêbados, não têm consciência, portanto tudo é certo.
Tu ainda és certo, como muita coisa aqui, ainda vives em mim. 



segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

há dias assim!

"há dias tão grandes que parecem um mês inteiro. há dias que passam num abrir e fechar de olhos. há dias para esquecer. há dias para lembrar. há dias simples. há dias, meu deus, que são uma confusão. há dias silenciosos, metidos nos seus botões. há dias que dão vontade de falar. há dias cheios e dias em cheio. há dias quase vazios. e dias que mudam as nossas vidas. há dias em que só pensamos no futuro. e dias em que temos saudades de quase tudo. há dias comgrandes manhãs. e dias que se prolongam pela noite dentro. há dias ensonados. nublados como sonhos. há dias reais. dias irreais. há dias cheios de amigos. e outros mais sozinhos. há dias em que chove a cântaros. há dias em que perdemos a chave. e dias em que perdemos o autocarro. há dias em que o rei faz anos. há dias de greve. de trânsito e engarrafamentos. há dias de eleições e de novos governos. há dias sem carros. há dias da mãe, do pai e da criança. dias da música, da água e da dança. há dias em que perdemos a esperança. há dias em que cruzamos os braços. e dias em que arregaçamos as mangas. há dias em que ninguém nos cala. há dias em que nos apetecia mandar nisto tudo! há dias em que temos vontade de partir. e dias em que temos vontade de voltar. há dias coloridos e dias a preto e branco. há dias negros (verdadeiramente maus). e dias azuis. há dias trágicos. há dias em que aprendemos uma palavra nova. e dias em que temos uma palavra mesmo debaixo da língua. há dias em que tudo são sete cores. os pássaros, a vizinha, o senhor do talho, as flores! há dias bons para andar de bicicleta (e de triciclo). há dias em que perdemos a cabeça. há dias em que começamos tudo do princípio. há dias que já lá vão. há dias que nunca chegam. há dias em que contamos os dias para as férias. há dias em que temos orgulho do nosso país. e outros em que nos deixam muito envergonhados. há dias de cerimónia. e outros em que nos apetece andar descalços. há dias que passam a correr. e outros que vão andando... há dias de surf. e dias de sofá. há dias em que não fazemos os trabalhos de casa... e dias em que partimos o mealheiro. há dias que esticam. há dias que deviam durar para sempre. há dias em que nos apetecia mesmo dormir debaixo de uma grande árvore. há dias em que precisamos de um café. e dias em que precisamos de um abraço. há dias em que fazemos um amigo. há dias em que as coisas andam para trás. e dias em que o mundo anda para a frente. há dias que pedem uma banda sonora. e dias em que apetece cantar no duche. 
... e melhores dias hão de vir."

domingo, 2 de dezembro de 2012

ouvi dizer

«Existe um ele e uma ela, aqui, ali, ao virar da esquina, na casa do lado, do outro lado da rua, na cidade e no campo, neste continente ou num outro qualquer.
Existem um querer maior que é magnificado por tudo que nos rodeia enquanto crescemos.
O poder que nos leva ao cinema, que nos leva à música, aos livros, ás conversas, ao sonho, ao expoente da nossa loucura.
O poder que nos move, que nos faz dramatizar, que nos consome e que muitas vezes nos destrói. O poder de Romeu e Julieta, o poder do Manel e da Maria.
A dança dos nossos dias, os actos e ditos dos nossos corpos, boca e pensamentos.
Tudo por essa coisa, por esse ópio que ninguém condena e toda a gente procura.
Talvez seja mesmo isso, o fatalismo em si, que tudo não passa de uma doença e tudo nos leva a acreditar ser a nossa cura.
Existe o ele e ela e neles existe a dúvida do que querem.
Viver, seria o ultimato da resposta.»