Era uma vez a Pi e o Ni. A Pi era despachada, decidida, melodramática nas horas vagas e prática na hora da verdade. Era de riso fácil, lágrima demasiado fácil e teimosa. O Ni era sonhador, alegre, falador, esperto, activo e pouco prático. Era de riso fácil, lágrima demasiado fácil e muito preguiçoso.
A Pi teve um berço de palha e o Ni um emprestado de linho. A Pi deixou a escola ao 9 anos para ajudar a casa, tornou-se sopeira, cuteleira e mais tarde e para sempre, costureira. O Ni estudou, quando começou a trabalhar foi para ser serralheiro mecânico, profissão em extinção, lembra ele. A Pi ajudou os pais com 15 filhos, dos quais 7 nunca chegaram à idade adulta. O Ni teve dois irmãos, a menina também não vingou.
A Pi era da aldeia. O Ni era da cidade.
Cruzaram-se na cutelaria entre as máquinas e deixaram os destinos cruzarem-se, naquilo que tudo implica: bom, mau, daquele dia até hoje. A Pi e o Ni fazem 40 anos de casados, hoje.
Com 24 anos casaram, num dia de chuva tenebroso. Os primeiros anos de casados foram como o dia da boda, cheio de nuvens negras, lágrimas e maus agoiros. Felizes de se amarem, quebrados por perderem dois filhos em quatro anos. Quem os olha e contemplas-lhe a alma vê as lágrimas vertidas, os dias negros, as horas más de enterrar dois anjinhos. Quem os vive vê a alegria de saber viver e a força que os une ao mundo.
O sol decidiu sorrir-lhe, já bastava de escuridão. Aos 28 anos nasceu o menino de oiro, aos 31 o pirata e aos 38 a boneca.
O menino de oiro é bom e mole, o pirata é tímido e travesso e a boneca sou eu. São meios que parecidos entre eles.
Hoje o Ni e a Pi vivem a dois, livres das imposições e obrigações, são reformados.
Cresceram a dois, prosperaram a dois, sofreram a dois, são felizes a dois. Vivem um para o outro.
Hoje foram ver o mar, uma das coisas que gostam a dois.
O Ni a Pi eram dois patos animados, a mãe Pata era a Pi e o pai Pato o Ni e tinham Patinhos, davam no tempo da televisão a preto e branco, foram inspiração!
Eram felizes. A Pi e o Ni tem patinhos e são felizes, como os da televisão.
Eram felizes. A Pi e o Ni tem patinhos e são felizes, como os da televisão.
O final feliz é cada dia que eles vivem assim: a dois com os Patinhos sempre por perto: o Quim, o bom rapaz; o Jonas, o secretário e a Catarina de Bragança, a nininha. Andamos sempre por perto, porque apesar de Pata, a Pi é mãe galinha.
Somos Patos, com ideias de gente!
Somos Patos, com ideias de gente!
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