segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Linhas cruzadas

Vive na encruzilhada é um facto.
Sendo uma conhecedora do domínio semântico da palavra, sabe que está no meio do "ponto" onde várias ruas e caminhos se cruzam. 
Respira fundo e imagina-se lá! 
No meio, no centro daquele "ponto" gigante, maior que ela, na entranhas dos caminhos da vida dela, no coração das decisões boas e más dela, vê os momentos bons e os maus, os olhares bons, os sorrisos bons, só quer ver os bons! Vê as pessoas boas e más: Vê-se entre elas e quanto imperfeita o é! Ali no meio imagina o conjunto de vidas que a rodeiam como novelos independentes. 
Vê os fios à sua volta e imagina-os na mão: O fio do novelo cinzento e tijolo que lá de vez em quando, em algumas quartas-feiras da vida dela, ela agarra e puxa o fio. Sabe que apenas o segura porque quer e que não significa mais do que, 3 vezes por ano sentir-se irresponsável e com 21 anos; Vê o fio azul e vê a forma da bota formar-se, a nuvem de fumo e o sotaque acentuado de quem fala a cantar. Ouve o riso e a palavra característica que vem em todas as frases. Sabe que esse fio já esteve mais perto e por agora não o pode segurar, são tempos de mudanças e essencialmente de crise; Vê o fio amarelado, o mais velho ali, vê-o a olhar para ela com o sorriso que a derrete só de pensar nisso, mas não lhe pode tocar, não pode ser ela, e numa imagem extrema, não pode ser dela...não pode! Suspira e tem a certeza que deixaria de estar no "ponto"!; Vê o fio laranja, sente um arrepio e corre na direcção oposta. Corre em esforço e sentem-se num daqueles sonhos onde quanto mais corre menos se mexe. Desespera! É laranja porque está em chamas e queimou-a uma vez, queimaduras de primeiro grau. Uma segunda vez e ela seria a Sónia Brasão e só implantes de pele a salvariam. Então esse também não pode ser! E lá ao fundo vê um, sabe que não vale muito a pena e por isso, deixa-se estar.
Senta-se no "ponto", cruza os braços e percebe que não há muito a fazer. É esperar e esperar, não sabe muito bem pelo o quê exactamente.  Pode ser que a agulha de tricô escolha o fio que não rebente no lado mais fraco, porque nisso, a justiça é nenhuma e ela começa a fartar-se de arroz.




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