segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Només, o contador de histórias



«Confessou-me que gostava da ideia das histórias e cantigas de boca em boca, onde as pessoas se permitiam a acrescentar um ponto. Esse ponto era muitas vezes reflexo do momento de cada estado de espírito.  Ora se o contador de histórias daquele instante acrescentasse um ponto feliz, era a felicidade que reinava no seu coração. Assim as histórias eram um mapa da alma de cada contador. 

Ela sempre que as ouvia ficava a deliciar-se em cada pormenor da história e a permitir-se imaginar uma vida paralela que levou aquele trecho da história. Era muito mais belo perceber o coração de quem conta com o conhecimento que tem. No fim um conto era uma soma tão grande de vivências que era muito mais rica daquela dos livros, que é transcrita mas sempre da mesma forma, nada muda e apenas representa uma perspectiva, uma sabedoria, uma alma, onde está a piada disso?

Depois deste raciocínio respeitei-a mais, era de facto uma versão interessante. Era bonito da parte dela ver para além do que nos é mostrado. Para mim a história de um livro era aquilo que fazia sentido. Mas aplicando a visão dela a um livro, como “O Principezinho” fazia sentido que a posição dele fosse mais real do que muitas vezes o é, pois a pessoa que fosse ousar dizer que “tu és eternamente responsável por aquilo que cativas” teria mais consciência do quão difícil isso o é. 

Essa mítica frase seria dita de uma forma menos profunda, mais dura e mais real. Se fosse eu que a transcrevesse nesta minha fase da vida, diria que “és responsável por aquilo que cativas enquanto o conseguires, porque não podes tentar ser tudo para todos e vais perdendo as pessoas por isso, por não saberes medir as necessidades delas, a verdadeira responsabilidade é ser responsável e consciente daquilo que vales”. 

Depois alguém ouviria a história e perceberia que eu estava uma confusão e na minha alma havia uma grande busca dos valores que eu queria que fossem meus, e sentiriam empatia por mim aqueles que experimentassem como deles as minhas dúvidas e indiferença os confiantes em si mesmos.

 Aí os confiantes iriam omitir as minhas dúvidas e colocar as certezas na história e os confusos iriam aprofundar as minhas dúvidas e a história iria seguir dois rumos. 
Que bela visão do mundo da história e das pessoas. Sofie, nunca te irei esquecer por isto!»

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