«Confessou-me que gostava da ideia das
histórias e cantigas de boca em boca, onde as pessoas se permitiam a
acrescentar um ponto. Esse ponto era muitas vezes reflexo do momento de cada
estado de espírito. Ora se o contador de histórias daquele instante
acrescentasse um ponto feliz, era a felicidade que reinava no seu coração.
Assim as histórias eram um mapa da alma de cada contador.
Ela sempre que as
ouvia ficava a deliciar-se em cada pormenor da história e a permitir-se
imaginar uma vida paralela que levou aquele trecho da história. Era muito mais
belo perceber o coração de quem conta com o conhecimento que tem. No fim um
conto era uma soma tão grande de vivências que era muito mais rica daquela dos
livros, que é transcrita mas sempre da mesma forma, nada muda e apenas
representa uma perspectiva, uma sabedoria, uma alma, onde está a piada disso?
Depois deste raciocínio respeitei-a mais,
era de facto uma versão interessante. Era bonito da parte dela ver para além do
que nos é mostrado. Para mim a história de um livro era aquilo que fazia
sentido. Mas aplicando a visão dela a um livro, como “O Principezinho” fazia
sentido que a posição dele fosse mais real do que muitas vezes o é, pois a
pessoa que fosse ousar dizer que “tu és eternamente responsável por aquilo que
cativas” teria mais consciência do quão difícil isso o é.
Essa mítica frase
seria dita de uma forma menos profunda, mais dura e mais real. Se fosse eu que
a transcrevesse nesta minha fase da vida, diria que “és responsável por
aquilo que cativas enquanto o conseguires, porque não podes tentar ser tudo
para todos e vais perdendo as pessoas por isso, por não saberes medir as
necessidades delas, a verdadeira responsabilidade é ser responsável e
consciente daquilo que vales”.
Depois alguém ouviria a história e perceberia
que eu estava uma confusão e na minha alma havia uma grande busca dos valores
que eu queria que fossem meus, e sentiriam empatia por mim aqueles que experimentassem
como deles as minhas dúvidas e indiferença os confiantes em si mesmos.
Aí os
confiantes iriam omitir as minhas dúvidas e colocar as certezas na história e
os confusos iriam aprofundar as minhas dúvidas e a história iria seguir dois
rumos.
Que bela visão do mundo da história e das pessoas. Sofie, nunca te irei
esquecer por isto!»
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