«Tinha uns olhos tristes, pele escura do
sol e a vida dele podia ter sido a servir no El Rey de la Gamba 2 para sempre.
Provavelmente poderia ter visto passar por ele milhares de turistas, desde do
extremamente simpático ao mais arrogante e superior de todos. Poderia passar-lhe
certamente pela história de vida o cliente indiferente a Paella, o amante de Paella e mesmo aquele que não se atreveu a
experimentar. Mas não passou a vida ali, num restaurante costeiro, um
restaurante para turistas provenientes da praia, com restos de areia colados no
corpo, chinelo de dedo, biquíni de fora, cabelo desalinhado e cheiro
de protector solar e sal do mar mediterrâneo. Clientes com fome, incapazes
de discernir se era aquela a melhor refeição do mundo ou se era a fome a
falar. Mas a história não começa aqui, Només deixou esta vida para outros,
e agora sentado a comer Patatas bravas
vê-se com pele menos queimada, menos caliente. Vê-se menos només.
Chamava-se Alejandro, Javier, ou Ramon,
para a falar a verdade, foram os olhos dele que fizeram a história que viveu, o
nome pouco interessou, na realidade poucos os sabiam, pois não faria diferença
nenhuma nos trilhos que ele colocou os pés, nas opiniões em que ele lançou a
voz, nas acções em que ele decidiu dar as mãos e os braços. Nasceu em finais dos anos 60, nasceu
quando o Mundo começou a sonhar mais alto com a chegada à Lua, sim, nasceu com
motivações de evolução mas, nasceu no Franquismo, num Franquismo menos agreste
é certo, mesmo assim, nasceu sem o livre grito de Ipiranga, nasceu numa Espanha
ainda mergulhada na ditadura. »
E tudo o definiu!
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