sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Només #1

«Tinha uns olhos tristes, pele escura do sol e a vida dele podia ter sido a servir no El Rey de la Gamba 2 para sempre. Provavelmente poderia ter visto passar por ele milhares de turistas, desde do extremamente simpático ao mais arrogante e superior de todos. Poderia passar-lhe certamente pela história de vida o cliente indiferente a Paella, o amante de Paella e mesmo aquele que não se atreveu a experimentar. Mas não passou a vida ali, num restaurante costeiro, um restaurante para turistas provenientes da praia, com restos de areia colados no corpo, chinelo de dedo, biquíni de fora, cabelo desalinhado e cheiro de protector solar e sal do mar mediterrâneo. Clientes com fome, incapazes de discernir se era aquela a melhor refeição do mundo ou se era a fome a falar. Mas a história não começa aqui, Només deixou esta vida para outros, e agora sentado a comer Patatas bravas vê-se com pele menos queimada, menos caliente. Vê-se menos només.
Chamava-se Alejandro, Javier, ou Ramon, para a falar a verdade, foram os olhos dele que fizeram a história que viveu, o nome pouco interessou, na realidade poucos os sabiam, pois não faria diferença nenhuma nos trilhos que ele colocou os pés, nas opiniões em que ele lançou a voz, nas acções em que ele decidiu dar as mãos e os braços. Nasceu em finais dos anos 60, nasceu quando o Mundo começou a sonhar mais alto com a chegada à Lua, sim, nasceu com motivações de evolução mas, nasceu no Franquismo, num Franquismo menos agreste é certo, mesmo assim, nasceu sem o livre grito de Ipiranga, nasceu numa Espanha ainda mergulhada na ditadura. »

E tudo o definiu!

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